sábado, julho 22, 2006

"O Caniço, nem mau nem bom, como era de regra no lugar, se não tinha amigos, também não tinha inimigos. Solteirão, o que lhe pertencia, embora de tentar, fizera-o de há muito por escrito ao Artur, seu único sobrinho. De forma que ninguém descortinava maneira de encontrar o fio à meada.
Ora, por mais absurdo que seja o mundo, uma criatura não desaparece da noite para o dia sem fazer pensar. O homem necessita de sentir uma segurança vital a longo prazo. A morte é aceite por todos como senhora de baraço e cutelo, mas a esperar pelo freguês lá muito longe, numa encruzilhada que tem vários desvios. Por isso, o caso do Bento Caniço, evaporado da terra por obra e graça, desencadeou em S. Cristóvão um vendaval de suspeitas e de investigações. Tudo inútil. Os dias passaram, as raízes de várias sementeiras digeriram os carolos de várias colheitas, e o problema cada vez mais intrincado."
Autor que desconheço (por enquanto)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu também conheço esse texto, mas não me perguntes de onde! A descrição da morte, de baraço e cutelo, é-me muito familiar. Teremos assistido a esse texto juntos, nalgum ponto no tempo? :P Seja de que forma for, revejo nesse texto um bocadinho de ti, João.

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NF

1:59 da tarde  

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