sábado, maio 20, 2006

"Não. Ainda não consegui voltar para casa. Sou imensamente infeliz no apartamento, falta-me tudo, falta-me não sei o quê, vivo à espera de alguma coisa que há-de acontecer, alguma coisa que há-de curar-me desta angústia, deste vazio, deste frio que me dá na alma quando me deito, quando me levanto, quando fecho a porta sobre aquele espaço desarrumado, quando a abro para aquele lugar escuro, desabitado."
IN A Trança de Inês, Rosa Lobato de Faria

Tertúlias FATAL 2006

Mais um FATAL que está a chegar ao fim. Dos espectáculos a que assisti posso dizer muito pouco, uma vez que assisti só a dois e entrei noutro.
Para além de opiniões que possa dar acerca dos espectáculos dos quais fui espectador, preferia dar opiniões acerca das tertúlias que precedem cada um dos espectáculos. E o que posso dizer é que acho que as pessoas intelectualizam demais a análise do espectáculo, não fosse grande parte das pessoas intervenientes em tais tertúlias pessoas de letras. Acho que as pessoas de letras irritam-me… Chateiam-me com tanta teoria, tanto pragmatismo… Irritam-me ao recusarem-se fazer uma análise dos espectáculos como sendo de grupos amadores e universitários assim elevando a exigência que podiam aplicar a um espectáculo que decorre no Teatro Nacional ou noutro qualquer de renome. Porque fazem isto, se o próprio público de um FATAL vai esperando ver um espectáculo de amadores universitários? Porque é que se recusam a analisar e ter em conta o tempo e o modo de preparação do espectáculo a que assistem se de facto isso é muito importante no tipo de festival a que se assiste?
Se eu for ao Teatro Nacional, não me interessa quanto tempo tiveram para preparar aquele espectáculo, ou o modo como o fizeram, mas sim, a única coisa que me interessa é o espectáculo a que assisto. Porque são profissionais, aquela é a vida de quem o leva à cena, só tenho de exigir profissionalismo e qualidade. Mas com um grupo de teatro universitário não posso exigir isso. Quem está lá não vive do teatro e muito provavelmente nem para ele. Porque têm aulas, porque têm exames, porque têm uma carreira a construir e pela qual têm de lutar afincadamente. O grupo de teatro que integram é um hobby, é o sítio que encontram para fugir à rotina, esquecerem-se por momentos dos problemas e das exigências da vida, para criarem laços afectuosos com as outras pessoas com quem estão. Porque decidem que em vez de irem para o Bairro Alto beber uns copos, preferem estar fechados numa sala onde podem criar, gritar o que têm de sufocar no dia-a-dia, ser louco sem ninguém o olhar como tal.
E isto não é mais uma vez “coitadinhos dos grupos universitários; são amadores, não se pode exigir mais” isto é a realidade. Façam com que as tertúlias do FATAL sejam realmente produtivas. Critiquem, sim. Mas não deixem as pessoas à nora, sem saber como melhorar. Oiçam como construíram, oiçam como criaram, oiçam o que é que é para cada um dos membros o grupo, o que os faz sentirem-se ligados a ele, a estarem numa sala todas as noites a preparar algo com tanto carinho, tanto empenho.
Por favor. Deixem-se de intelectualices, deixem-se de imparcialidades mesquinhas. Existem diferenças entre teatro amador, profissional e até mesmo universitário. Façam com que as tertúlias sejam algo de produtivo. Baixem a crista.