segunda-feira, agosto 06, 2007

Queijos Mártires

Quero contar uma história, que embora seja apresentada pela terceira pessoa, acredito que o seu sumo se possa identificar.
Tenho uma daquelas tias muito devotas, que todos os dias sente a necessidade de ir à casa do Senhor, orar. Que todos os Domingos pelo meio-dia podemos encontrar na capela ocupada pelo coro, na igreja matriz. Que nunca faz uma viajem (nem que seja só para ir à rua de baixo) sem que faça o Sinal da Cruz. E que, segundo sempre ouvi, mas não assisti, porque ainda não era nascido, por volta de 74 quis ocupar uma das igrejas da terra para fazer uma oficina para o meu tio por afinidade, e primo distante. Deve ter sido o sangue na guelra dos seus 30 anos, as influências profundamente comunistas da ancestral tradição da nossa família. Mas já me estou a afastar do que me fez sentar a escrever...
Este fim-de-semana foi passado "na terra" e em conversa com a tia muito devota, lá me contou que um padre amigo da família, seu afilhado de ordenação, vinha de Itália, parou em Portugal e partiu para o Brasil.
Nas suas modestas malas, tal como convém a um Senhor Prior, levava umas oliveiras para plantar, já que antes umas Irmãs tentaram levá-las mas não as deixaram levar do aeroporto brasileiro, e uns queijos maravilhosos para entrada em alguma ceia, que não a última. Desta, o afilhado da tia muito, muito devota, conseguiu passar com as oliveiras, que brevemente virão enriquecer a ceia com umas azeitonas, e que já devem figurar no brasil como o Montchi dáize Óliveiráize. Mas, o Senhor Padre foi retido numa sala, por causa dos queijos que levava consigo. Os polícias do aeroporto do Rio de Janeiro tiveram de abrir todos os queijos ao meio, para verificar se não continham no seu interior algo ilegal, e depois disto, sempre muito lentamente, verificaram que estava tudo bem... Por isso, o melhor que poderam fazer foi regar os queijos com um líquido inflamável e fazê-los desaparecer ardidos.
O Senhor Prior ainda disse que podiam ficar com eles para os comerem. Que não os queimassem. Mas já era tarde.
Agora, a tia muitíssimo devota e o seu afilhado de ordenação conjecturam: será que os polícias perderam tempo com os queijos mártires para que o ilegal pudesse entrar naquele país?