quarta-feira, janeiro 26, 2005

Porto Côvo
Carlos Tê / Rui Veloso


Roendo uma laranja na falésia

Olhando um mundo azul à minha frente

Ouvindo um rouxinol na redondeza

No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas

Ao largo as águas brilham como pratas

E a briza vai contando velhas lendas

De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha

Plantado por um vizir de odemira

Que dizem por amor se matou novo

Aqui no lugar de porto côvo

A lua já desceu sobre esta paz

E reina sobre todo este luzeiro

À volta toda a vida se compraz

Enquanto um sargo assa no braseiro

Ao longe a cidadela dum navio

Acende-se no mar como um desejo

Por trás de mim o bafo do estio

Devolve-me à lembrança o alentejo

Roendo uma laranja na falésia

Olhando à minha frente o azul escuro

Podia ser um peixe na maré

Nadando sem passado nem futuro