sábado, janeiro 29, 2005

Representação em Hamlet *

A vingança de Hamlet

O plano de vingança de Hamlet contra o seu tio Claudius e todas as mortes e sofrimentos que esse plano trouxe podiam permitir ver Hamlet como um vilão. Na verdade permite que muitos inocentes morram só para que o seu plano tenha êxito.
Hamlet não representa o estereótipo de bondade a seguir, uma vez que a vingança é uma “forma selvagem de fazer justiça”, tal como Francis Bacon afirmou.
Então o que torna Hamlet num herói? Porque nos sentimos identificados com o protagonista desta obra? Se Hamlet ainda é uma personagem viva entra nós, é porque achamos que ele de alguma maneira representa algo que é universal na humanidade. Será esse nosso enorme desejo recalcado, não aceite, chamado de selvagem, que é o da vingança, inerente a qualquer mortal?


Representação objectiva ou subjectiva?


No ponto de vista de Nietzsche a obra de arte tem de ser tornada objecto para que seja considerada obra de arte, para que seja universal, ou seja, para que represente algo para qualquer sujeito.
Hamlet é uma obra de arte e realmente universal, mas será completamente objectiva? Será que qualquer manifestação considerada artística é objectiva? Ou não será que o criador é que é realmente objectivo na sua subjectividade, isto é, que os seres humanos são essencialmente iguais, apesar de parecerem uma individualidade?

Veja-se o caso da palavra despoletar. O significado original deste significante é de origem militar, e descreve o acto de tirar a espoleta de uma granada, por exemplo, levando à sua explosão. A subjectividade de alguém uma vez permitiu-lhe interpretar a representação deste significante de um modo diferente, figurativo, subjectivo o que resultou que hoje em dia se considere, erroneamente, que o significado original deste vocábulo seja o de desencadear uma acção.
Será que a subjectividade do indivíduo que interpreta altera o significado das coisas, que a priori parecem objectivas e independentes da subjectividade e do tempo, levando-as a perder a essência da sua realidade? Ou será que os objectos interpretados têm como destino estar à mercê da representação subjectiva que tenta ser objectiva e significarem coisas diferentes com o passar dos tempos?

Ser ou não ser, eis a questão!
* IN Marques, P.M. (2005), A Representação na Representação de Hamlet. Excerto de um trabalho da disciplina de Mimese e Representação.